sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Da série Interação(8)


Leve o mundo que eu vou já

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

2 Lactobacilos Vivos


Estou bebendo um danone que possui 2 lactobacilos vivos. Eles são assim, não são?

A Gente Aprende

Tem dias que a gente sente como se entendesse a mente. Tem dias que a gente mente que entende o que sente. Tem dias que a gente entende que sente e mente. Tem dias que não se entende, nem mente, nem se sente. Tem dias que a gente se mete na mente que sente. Tem dias que a gente sente a mente que entende e que também entende a mente que sente. Tem dias que se metem na gente. Tem dias que se investem em gentes intermitentes, mas envolventes. Que só se conhecem pessoas nientes. Que nos sentimos atraentes, quentes e levemente crentes. Que sentimos dor de dente, dum siso contundente. Que rimos das piadas dementes de uma vida repente, que rima na cadência das desgraças da gente. E vivemos todos assim, em um carrossel eloquente, que cria na gente uma sensação potente de amor decente, ardente e crescente. Entende?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Amor é igual Capim


Amor é igual Capim
Você planta, ele cresce bonitinho
Aí vem uma vaca e estraga tudo

Sai Daqui Vaca!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Voice

Desenhos em época de Guerra




O céu cinza cheirava a metal queimado e retorcido. O vento trazia de não tão longe o odor característico de tempos como este. Cheiro de fábricas, de máquinas, de guerras. A cor avermelhada no horizonte clareava a noite mais escura e também os rostos de desespero, perdidos na escuridão. Ninguém prestava atenção uns aos outros quando ouvíamos as explosões ao longe. Era quando eu mais gostava de vê-los. Suas bocas entreabriam para soltar suspiros que as vezes nem vinham. Os olhos se arregalavam e secavam rapidamente, forçando-os a fechá-los em seguida. O cansaço era visível e eu me deliciava em poder traçar-lhes toda a extensão da pele, enquanto o caos reinava imponente. Com a prancheta de papéis desenháva-lhes a feição e corria para mostrar ao meu pai, que sempre puxava o papel e jogava na lareira. Minha diversão se completava enquanto via seus rostos queimando na fábrica de fogo improvisada que meu tio preparara dias antes de viajar para o leste, de onde apareciam os clarões noturnos. Meu pai quase nunca falava de meu tio e meu próprio tio também não. Ele passava longas horas fumando um cachimbo na sacada do terceiro andar, apartamento da senhorita Luíza, que me dava doces por pintar retratos seus. Seu sorriso era o mais difícil, pois mudava a cada risco no papel e eu tinha que redesenhá-lo várias vezes. Eu nunca terminava os retratos. Ela liberava-me assim que via os olhos desenhados e eu tentava fazê-los o mais detalhados que podia, assim ganhava muitos doces para levar à quitanda do senhor Rodrigo, para vender e poder comprar um pouco de comida para mim e minha família. As grandes balas de jujuba eram as que valiam mais. Sua cor forte e a transparência de caramelo faziam-nas parecer grandes bolas de gude, prontas para disputar um campeonato de meninos, como os que ocorriam antes de meu pai tornar-se um homem sério. Antes de termos de sair de nossa antiga casa, sem poder levar nem o Bandit, nosso cachorro de estimação. Meu tio não conversava muito com a senhorita Luíza, mas vivia olhando-a de longe, como quem tem medo de falar algo indevido. Ela retribuia-lhe o olhar pouquíssimas vezes, mas cada vez que o fazia, transformava a boca triste de meu tio em um largo sorriso. Nunca consegui captar este momento, apesar de tentar por várias vezes reproduzí-lo de cabeça. Tentativas falhas. Quando meu tio partiu, Luíza não deixava-me mais pintar seu retrato e dizia-me que o olhar que eu desenhava não era mais o dela. Com isso parei de receber os doces e comecei a trabalhar na fábrica de meu pai. Eles faziam grandes máquinas para a Guerra. Máquinas de metal queimado e retorcido, às pressas. Passei cinco anos operando uma máquina que torcia metais em espirais, para grandes peças de engrenagens, até que em uma pausa de almoço um dos supervisores viu-me desenhando os rostos dos trabalhadores descansando. O supervisor não entendia os desenhos de pessoas, principalmente de meu pai, comendo apressadamente do outro lado do pátio um lanche qualquer, rodeado de outros pensamentos apresados. Ele entendia sim de desenhos de máquinas e colocou-me para treinar alguns esboços. Rapidamente aprendi a desenhar todos os metais que via na fábrica e logo comecei a criar alguns, dando asas à pássaros que não foram feitos para voar. Meus desenhos passaram de rabiscos à obras meticulosamente calculadas e analisadas por diversos times. Passava horas em meu escritório desenhando os grandes pássaros, peça por peça. Meu turno terminava no final da tarde, mas as vezes ficava até o nascer do Sol, criando e recriando. Secretamente, mantia o hábito de desenhar pessoas, com curvas majestosas e de sentimento explícito. Quase não via meu pai, mas aproveitava para roubar-lhe sentimentos em horas oportunas, como os intervalos da tarde, quando podia desenhar-lhe como queria. Em casa, era bem recebido por minha mãe, mas quase nunca por meu pai, que relutava em ver e falar com seu filho, destreinado para a luta, desenhando confortavelmente em uma cadeira acima dos outros funcionários. Ele sempre dizia que os desenhos trariam-me ruína. Após meses desenhando para nosso governo, foi ficando claro que não estávamos mais avançando e aos poucos fomos obrigados a parar de produzir as armas de guerra, em detrimento da excassez de alimentos, salários e roupas. Meu departamento foi o último a ser fechado, pois eu produzia trabalhos que podiam ser reaproveitados em outra frente. As noites solitárias na fábrica deram-me impulso para minhas melhores criações, específicas para a destruição rápida e eficaz de todo tipo de alvo. Nesta mesma época a notícia da morte de meu tio chegou à família, causando tristeza por todo o bairro e especialmente para a senhorita do terceiro andar, que já não saia mais. Com a morte de meu tio, era obrigatório o envio de outro membro da família à frente de guerra, mesmo sendo alguém inexperiente. A escolha era óbvia, eu teria de ir. Foi-me dado um fardo com roupas camufladas e também um fusil e meu treinamento começaria assim que conseguisse chegar no campo de batalha. Preparei-me da melhor forma que pude e escrevi este texto, para que minhas memórias não vivessem apenas comigo. A ele, anexo um desenho de um dos olhares de Luíza, que não consigo mais captar como captava, mas que não sai mais de minha mente.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Não Quero-Quero.

Eu queria ter a coragem dos que vieram antes no tempo. Queria dizer-lhe todas as coisas que penso, sem que a racionalidade atrapalhasse os sentimentos. Gostaria de declarar-te meu peito e, com efeito, o medo presente do momento. Declamar-te sonetos de filhos e netos e flores ao vento. Sentir a brisa e a chuva correrem no corpo inteiro. Mostrar-te o rosto, sedento do resto. Gesticulando em metros o que em palavras é incompleto. E em um momento modesto, sentir-lhe os cabelos, ondulando intrépidos. Dar a volta ao mundo contando absurdos severos. Repletos de nuvens de versos. Lapidar-te os diamantes de gelo. Roubados dos veios. E em impulso ligeiro, contemplar-lhe os mistérios, assim bem de perto. E se não fosse o 'te quero', não seria comigo mesmo austero. E se não fosse o 'não quero', seria um Eu mais completo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Reflexo da procura de quem acha.


Era madrugada. Os corpos moviam-se frenéticos em encontro uns aos outros. No teto, estrelas falsas piscando em desespero. No ar, suor em cheiro. Largos sorrisos fúteis rasgavam o ambiente em tiras de superficialidades declaradas. No canto, um menino assustado. Assustado com a voracidade de um mundo recém-descoberto. Algo move-se em sua direção. Pessoas tocam-lhe a face, o corpo. Puxam-lhe a roupa e seus cabelos. Sussurram obcenidades, enquanto esfregam as mãos em seu peito. Não. Foge. Corre para outro canto, mais vazio, onde consegue observar a multidão. Pessoas amontoadas em um cubículo sonoro e pulsante. No canto também outra pessoa. Essa, comandando a orgia. Com grandes orelhas falsas e um olhar fixo em dois pequenos discos pretos que ligam-se com suas mãos. Movimentos fortes e ritmados em cima dos discos fazem a massa disforme de lascívia se mover. Olhar curioso em cima de tudo. No meio, três pessoas da terra, junto com três pessoas de outras terras. Conversas abafadas, mas perfeitamente não-entendidas. Não sabem se comunicar, ao menos, não verbalmente. Seis mãos em seis corpos. Seis corpos em seis mãos. Espaço curto de tempo-espaço. Saia curta e muito fácil. São seis na rua, seis fugitivos, seis vontades. São seis em fogo. A rua escura propicia mãos invisíveis de sensualidade sem ternura. Incomunicavelmente sexo. Ainda não. Local final de começo de noite. Quartos separados apenas pelo traço. Sons visivelmente misturados. Quem quer quem? Aquém, ninguém. Os pelos se tocam, sem se provar. Gemidos de vontade incontida em peito de cabelo. Animalesco. Toques afobados, afoitos. Amedrontado por saber de tanto. Quanto? Tanto. Coito. Morte da inocência, através da violência. A dor se traduz em visibilidade. Em luz. No ato, um menino perdido e sem tato. No pós, seis dividido em dois. Três pra cá. Três pra lá. Sem comunicação verbal. Sem ligação. Sem sentido. Sem. Era dia.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não Pise na Grama

"Não pise na Grama". Era o que estava escrito na plaqueta, quando cheguei no parque. Sentei em um banco qualquer e fiquei aproveitando meu recém-comprado lanche de mortadela. Enquanto dava mordidelas em meu saboroso lanche sabor mortadela, comecei a falar pausadamente a frase da grama, aquela que fala para não pisar nela. Nela, a Grama. Enquanto dividia as palavras com o lanche, ou o contrário disso, percebi o movimento que as graminhas da Grama faziam quando os sopros de Vento batiam-lhes as faces. Algo bonito de ver, todas elas se movimentando em conjunto. Todas verdinhas e apontando para o céu, achando-se o máximo por poder balançar de um lado à outro com a proteção do governo de que ninguém pisaria-lhes o corpo. Estavam tranquilas. Quando dei por mim, só restava um pedaço de alumínio em minha mão, que educadamente joguei em uma lata de lixo. Lata que provavelmente iria ser jogada um dia com todo o lixo acumulado que pensamos estar reciclando ao jogar em uma lata de lixo qualquer. O Lixo não some, nada some. Olhei novamente para as graminhas e decidi vê-las de perto, pois havia um quê de convite em seus movimentos. Levantei-me do banco, tomando cuidado com um ciclista desavisado, que insistia em olhar a parte traseira de alguma moçoila que também insistia em usar lycra, mesmo sabendo o quanto isso provoca acidentes por todo o Globo. Segui em direção ao gramado e ultrapassei a cerquinha do aviso mortal que dizia "Não Pise na Grama". Tarde demais, havia pisado. De alguma forma, pensei que sentiria alguma coisa, mas acabei por não sentir nada. Talvez fossem os sapatos, que nos separam grandemente do contato com a Terra, a terra. Descalcei-os e fiquei mexendo os dedinhos na grama, tal qual você faz quando toca a areia da praia com os pés. Estava eu mexendo dedinhos no grande mar verde que se prolongava até onde a mente tem vontade de lembrar. Estava eu sobre o mar, andando no mar. Sentei na Grama e brinquei com as graminhas. Deitei-me na Grama e as graminhas brincaram comigo. Fiz anjinho de Grama e descobri que não é nada igual a fazer anjinho de neve. As graminhas não gostam dos anjos. Tampouco dos demônios, creio. Olhei o céu e pensei ver uma nuvem em forma de Grama, mas era apenas uma graminha em meu óculos, fazendo-me rir. Ri até ficar sonolento. Adormeci no mar, velejando no verde das nuvens do sono. Viajei por lugares que não lembro, mas que me fizeram acordar com um sorriso no rosto. Acordei também com ela ao lado, deitada sobre mim. Aninhada em meu peito. Quem era? Quem era? Não queria acordá-la. Apesar de ser uma total estranha, não se acorda pessoas aninhadas em você desta forma. Seja educado, já dizia minha Mãe. Tentei mirá-la de soslaio, pois também aprendi a não encarar as pessoas. Isso foi meu Pai que ensinou. Mas acabei por encará-la descaradamente. Nunca obedeci meu Pai. Olhei seu cabelo dançando em meu corpo, ondulando sobre mim. Admirava cada detalhe de seu rosto. Uma sobrancelha que seguia o caminho de seu rosto, à encontrar o começo do nariz, que tinha um formato de bolinha, nariz de criança. Não vi muito dos olhos, pois estavam cerrados, mas batia-me mais forte o peito cada vez que pensava no momento do despertar. Sua boca entreaberta fazia-me lembrar dos morangos com creme de leite da infância, quando minha vó fazia sobremesa. Era delineada e possuía aqueles levantadinhos nos cantos, como se fosse esboçar um sorriso a qualquer momento. Algumas pintinhas aqui e acolá e uma pele muito bonita. Há quanto tempo estava observando-a? Mexi com as graminhas com a mão direita, enquanto afagava seu cabelo com a mão direita. Estranhamente, a sensação era a mesma. Era o mesmo mar de verde em minhas mãos, em meu corpo. Olhei para o céu, vi nuvens em forma de menina e de graminha, fundiam-se enquanto lentamente fechava meus olhos. Adormeçi sentindo o quente de seu corpo. Despertei. Já não há menina, apenas graminhas em ambas as mãos. O que aconteceu? Um sonho? Pesadelo? Pesadelo não, pois eu muito gostei. Sonho. Tão real, seus cabelos em meu verde mar. Levanto-me aturdido do que acontecera. Saio do gramado e calço os tênis. Leio na placa "Não pise na Grama" e entendo o significado de uma forma diferente. "Não pise na Menina", leio eu. Sento no banco, penso alguns minutos. Imagino seu calor em meu corpo. Ainda que imaginário, é bom. Levanto-me e sigo o caminho de casa, mas não sem antes retirar o Alumínio do Lixo que irá pro lixo. Guardo-o. No Parque, o mesmo ciclista machuca o joelho ao dar com uma árvore. No Parque, a mesma moçoila ajudando o ciclista machucado. O som de um navio e a luz de um farol. No Parque, a mesma plaqueta. "Não pise na Grama".

Da Série Não-Palito (4)


Eu sempre gostei do Leôncio. Acho-o divertidíssimo com seu bigode e seu jeito de falar.
Além disso, sempre achei-o simpático.

Obs: Eu sei que a frase não foi dele, mas eu sempre falo isso quando falo dele.